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Artigo
Um breve história da tomada de decisão
Tema
Planejamento Estratégico
tomada de decisão

Em meados do século passado, um executivo americano do setor de telefonia, Chester Barnard, inseriu a expressão tomada de decisão, típica do vocabulário da gestão pública, no mundo dos negócios. Ali, ela passou a substituir descrições mais limitadas como "alocação de recursos" e "definição de políticas". Com isso, o administrador deixou de se ver como o responsável por uma deliberação contínua, hamletiana, e passou a buscar decisões rápidas, de pronta execução.

Mas a tomada de decisão é, naturalmente, parte de um fluxo de pensamento iniciado nos tempos em que o homem, diante da incerteza, buscava orientação nos astros. Desde então, nunca cessou a busca de novas ferramentas decisórias, do sistema numérico indo-arábico ao empiricismo sistemático de Aristóteles, dos avanços na lógica do frade Occam ao raciocínio indutivo de Francis Bacon à aplicação do método científico por Descartes. A crescente sofisticação da gestão de risco, a compreensão das variações do comportamento humano e o avanço tecnológico que respalda e simula processos cognitivos melhoraram, em muitas situações, a tomada de decisão.

Apesar disso, a história da estratégia decisória - sintetizada nessa cronologia e examinada em quatro ensaios sobre risco, dinâmica de grupo, tecnologia e instinto - não é a de puro progresso rumo a um perfeito racionalismo. Estudiosos no século 20 mostraram que o custo de reunir informações leva o executivo a tomar decisões "boas o bastante".

E pior, tomamos decisões contrárias a nossos interesses econômicos, mesmo cientes disso. Já na ausência de emoção é simplesmente impossível decidir. Formula-ção errada de scartes ameaça a confiança em nossas esco-lhas. Por que a surpresa, então, quando um guru como Malcolm Gladwell vem pregar - apesar do crescente acesso à informação trazido pela tecnologia - as virtudes da decisão instintiva tomada, literalmente, num piscar de olhos?

O homem está sempre buscando novas ferramentas e novos modos de pensar para ajudá-lo a decidir. Da interpretação das vísceras de animais à inteligência artificial, o caminho percorrido é longo e inusitado

 Em meados do século passado, Chester Barnard, executivo aposentado do setor de telefonia e autor de As Funções do Executivo, inseriu a expressão "tomada de decisão", típica do vocabulário da gestão pública, no mundo dos negócios. Ali, ela passou a substituir descrições mais limitadas omo "alocação de recursos" e "definição de políticas".

A chegada desta expressão mudou o modo como o administrador via aquilo que fazia e gerou uma nova firmeza no agir, um desejo de conclusão, diz William Starbuck, professor residente da Charles H. Lundquist College of Business, da University of Oregon. "Definição de políticas pode ser algo interminável, e sempre vai haver recursos a alocar", explica. "Já 'decisão' implica o fim das deliberações e o início da ação."

Barnard e outros teóricos depois dele, como James March, Herbert Simon e Henry Mintzberg, lançaram as bases do estudo da tomada de decisão na administração. Mas o processo decisório em empresas é só uma pequena onda numa corrente de pensamento nascida num tempo em que o homem, diante da incerteza, buscava orientação nos astros. Saber quem toma decisões, e de que modo, é o que deu forma a sistemas de governo, justiça e ordem social mundo afora. "A vida é a soma de todas as suas escolhas", dizia Albert Camus. Se extrapolarmos, a história equivale à soma das escolhas de toda a humanidade.

O estudo da tomada de decisão é, portanto, uma mescla de várias disciplinas do saber, como matemática, sociologia, psicologia, economia e ciências políticas. A filosofia reflete sobre o que uma decisão revela sobre nosso eu e nossos valores. A história disseca a decisão tomada por líderes em momentos críticos. Já o estudo do risco e do comportamento organizacional nasce de um desejo mais prático: ajudar o administrador a obter melhores resultados. E, embora uma boa decisão não garanta um bom resultado, tal pragmatismo em geral compensa. A crescente sofisticação da gestão de risco, a compreensão das variações do comportamento humano e o avanço tecnológico que respalda e simula processos cognitivos melhoraram, em muitas situações, a tomada de decisão.

Apesar disso, a história da estratégia decisória não é a de puro progresso rumo a um perfeito racionalismo. Ao longo do tempo, tivemos inevitavelmente de aceitar limitações - tanto contextuais como psicológicas - à nossa capacidade de tomar a decisão ideal. Segundo Simon, circunstâncias complexas, tempo restrito e poder mental de computação inadequado reduzem o tomador de decisão a um estado de "racionalidade limitada". Embora Simon sugira que o homem tomaria decisões economicamente racionais se pudesse reunir informações suficientes, Daniel Kahneman e Amos Tversky identificam fatores capazes de levar alguém a decisões contrárias a seu próprio interesse econômico mesmo quando ciente disso. António Damásio recorre ao estudo de indivíduos com lesões cerebrais para demonstrar que na ausência de emoção é impossível tomar qualquer decisão. Formulação errada de questões, conhecimento limitado, excesso de otimismo: a derrocada do homem racional de Descartes ameaça a confiança em nossas escolhas. Como última fortaleza empírica, teríamos apenas o avanço da tecnologia.

Diante da imperfeição do processo decisório, a teoria sempre buscou um jeito de atingir resultados que, se não ideais, fossem ao menos aceitáveis. Gerd Gigerenzer sugere que façamos da limitação de tempo e conhecimento uma virtude e dominemos os princípios da heurística, abordagem que chama de raciocínio "rápido e frugal". Amitai Etzioni propõe a "tomada de decisão humilde", um conjunto de táticas nada heróicas que inclui tentativas, postergação e proteção. Há quem decida, simplesmente, voltar ao passado. Em abril do ano passado, um fabricante japonês de televisores entregou uma coleção de arte avaliada em US$ 20 milhões à casa de leilões Christie's, que bateu a arqui-rival Sotheby's numa disputada rodada de pedra, papel e tesoura, jogo que para alguns remonta aos tempos da dinastia Ming na China.

Nesta edição especial sobre a tomada de decisão, nosso foco, como sempre, é desbravar um novo chão. Veja a seguir uma amostra das bases desse vasto terreno.

Qual a chance?
O risco é parte indissolúvel de qualquer decisão. Na maioria das escolhas que alguém faz diariamente, esse risco é pequeno. Já numa empresa, as implicações (tanto positivas como negativas) podem ser enormes. Até a banalizada situação "em que todos ganham" (coisa rara, aliás) traz custos de oportunidade, na forma de caminhos não tomados.

Para tomar uma boa decisão a empresa deve calcular e administrar o risco que acompanha a decisão. Hoje, há um sem-fim de ferramentas sofisticadas para ajudá-la. Se voltarmos alguns séculos, porém, veremos que o instrumental para a gestão de risco consistia apenas de fé, esperança e palpite. É que o risco é um jogo matemático, e até o século 17 a tarimba do homem na área deixava a desejar.

Os primeiros sistemas numéricos eram, em sua maioria, difíceis de usar (quem já tentou multiplicar XXIII por VI sabe disso). O sistema indo-arábico (que, radical, incluía o zero) simplificou o cálculo e levou filósofos a investigar a natureza dos números. A evolução a partir dessas primeiras experiências com a base 10 é magistralmente narrada por Peter Bernstein em Desafio aos Deuses: a Fascinante História do Risco.

O relato de Bernstein começa nos dias sombrios nos quais o homem julgava não ter controle nenhum sobre os fatos e buscava sacerdotes e oráculos para auscultar o que as forças superiores lhe haviam reservado. Dali, avança rapidamente para o novo interesse na matemática e na medição, motivado em parte pelo crescimento do comércio. Na Renascença, cientistas e matemáticos como Girolamo Cardano refletiram sobre a questão da probabilidade e criaram problemas a partir de jogos de azar.

Em 1494, o monge franciscano peripatético Luca Pacioli propôs o "problema dos pontos" - como dividir o prêmio num jogo encerrado antes do fim? Cerca de 150 anos depois, os matemáticos franceses Blaise Pascal e Pierre de Fermat acharam uma saída para determinar a probabilidade de cada resultado possível de um jogo simples (o balla, que já fascinara Pacioli).

Mas foi só no século seguinte, quando o acadêmico suíço Daniel Bernoulli passou a estudar eventos aleatórios, que a base científica para a gestão de risco tomou forma. Bernoulli (autor também do amplo conceito de capital humano) não se concentrou nos eventos em si, mas nos seres humanos que desejam ou temem certos resultados em maior ou menor grau. Sua meta, escreveu, era criar instrumentos matemáticos que permitissem a qualquer um "estimar suas chances em qualquer empreitada de risco à luz de [suas] circunstâncias financeiras específicas". Ou seja, dada a probabilidade de um determinado desfecho, quanto a pessoa estaria disposta a apostar?

No século 19 outras disciplinas científicas atraíram a atenção de estudiosos do risco. Carl Friedrich Gauss aplicou seus estudos geodésicos e astronômicos à curva em sino da distribuição normal. De uma curiosidade insaciável, Francis Galton formulou o conceito de regressão à média ao estudar várias gerações de ervilhas (mais tarde aplican- do o princípio ao homem e observando que poucos filhos - e muito menos ne- tos - de figuras eminentes também adquiriram eminência).

Mas foi só depois da 1a Guerra Mundial que o risco ganhou destaque na análise econômica. Em 1921 Frank Knight fez a distinção entre o risco (quando a probabilidade de um dado resultado pode ser calculada [ou é conhecida]) e a incerteza (quando a probabilidade não pode ser determinada [ou é desconhecida] ). Tal tese tornava o ramo dos seguros atraente, e o espírito empreendedor, nas palavras de Knight, "trágico". Cerca de duas décadas depois, John von Neumann e Oskar Morgens- tern lançaram as bases da teoria dos jogos, que aborda situações nas quais a decisão de alguém é influenciada por decisões desconhecidas de "variáveis vivas" (ou seja, outras pessoas).

Hoje, naturalmente, toda empresa tenta saber o máximo que seja humana e tecnologicamente possível. Para isso, usa técnicas modernas como derivativos, planejamento de cenários, projeção de negócios, opções reais. Mas, numa era na qual o caos tantas vezes triunfa sobre o controle, nem séculos de descobertas matemáticas dão conta do recado. A vida "é uma cilada para a lógica", declarou o escritor G.K. Chesterton. "Sua imprevisibilidade está sempre à espreita."

Um encontro de mentes
No século 5 a.C. Atenas fundou a primeira, ainda que limitada, democracia da história. No século 17 os Quakers criaram um processo decisório que até hoje é sinônimo de eficiência, abertura e respeito. Desde 1945 a ONU tenta chegar à paz duradoura com a promoção da cooperação entre povos livres.

Há algo de nobre na idéia de indivíduos reunindo sua sabedoria e refreando os respectivos egos para tomar decisões aceitáveis e justas para todos. No século passado, psicólogos, sociólogos, antropólogos e até biólogos (em estudos cujo alvo ia de mandris a abelhas) se empenharam para desvendar os segredos da eficaz atuação em grupo. A popularidade de equipes de alto desempenho, junto com novas tecnologias colaborativas que tornaram "virtualmente" impossível para qualquer homem ser uma ilha, veio reforçar esse ideal coletivo.

O estudo científico de grupos nasceu por volta de 1890, no campo então florescente da psicologia social. Em 1918, Mary Parker Follett defendeu com ardor o valor do conflito na busca de soluções integradas na obra The New State: Group Organization - The Solution of Popular Government. Logo depois da 2a Guerra Mundial houve uma virada na compreensão da dinâmica de grupo - gerada, curiosamente, pela campanha do governo americano para promover o consumo de miúdos de animais. Convocado a ajudar, o psicólogo Kurt Lewin descobriu que era maior a probabilidade de que alguém alterasse os hábitos alimentares se discutisse o tema com outros do que se ouvisse palestras sobre nutrição. Sua influente teoria do campo rezava que os atos do indivíduo são fruto, em parte, do contexto social, e que até mesmo membros de um grupo com perspectivas altamente distintas agirão em conjunto para atingir um objetivo comum.

Nas décadas seguintes o conhecimento sobre a dinâmica de grupo e sobre o cultivo de equipes evoluiu rapidamente. Victor Vroom e Philip Yetton estabeleceram as circunstâncias nas quais a tomada de decisão em grupo é apropriada. R.Meredith Belbin definiu os componentes exigidos para uma equipe de sucesso. Ho- ward Raiffa explicou como o grupo explora a "ajuda externa" na forma de mediadores e facilitadores. E Peter Drucker sugeriu que a decisão mais importante talvez não seja aquela tomada pela equipe em si, mas pela diretoria ao resolver que tipo de equipe adotar.

Enquanto isso, estudos e acontecimentos revelavam o lado negativo da tomada de decisão coletiva. Uma decisão ruim - que um conselho, um grupo de desenvolvimento de produto ou uma equipe gestora po- dem tomar - muitas vezes nasce da falta da combinação adequada de elementos e de questionamento.

Consenso é algo bom, exceto se atingido com muita facilidade. Nesse caso, torna-se suspeito. Em 1972 Irving Janis cunhou o termo "groupthink", ou pensamento grupal, para descrever "um modo de raciocínio adotado por indivíduos profundamente envolvidos num grupo coeso, quando o desejo de unanimidade supera a motivação a avaliar de modo realista rotas alternativas de ação". Em suas memórias, A Thousand Days, o ex-assessor de Kennedy Arthur Schlesinger faz uma autocrítica por não ter objetado durante o planejamento da invasão da Baía dos Porcos: "Minha única explicação para não ter feito mais do que lançar umas poucas perguntas tímidas é que o impulso de soar um alerta sobre aquele absurdo simplesmente evaporava diante das circunstâncias da discussão."

Tudo indica que decisões surgidas da dinâmica de grupo exigem, antes de tudo, um grupo dinâmico. É como colocou sucintamente Clarence Darrow: "Pensar é divergir."

Máquinas pensantes
Profissionais da computação celebram o Xerox Parc da década de 1970 como um éden tecnológico do qual brotaram alguns dos instrumentos indispensáveis da atualidade. Mas vitalidade e progresso comparáveis já eram evidentes duas décadas antes no Carnegie Institute of Technology (CIT), em Pittsburgh. Ali, um grupo de notáveis pesquisadores criou a base conceitual - e, em certos casos, a programação - para a tomada de decisão auxiliada pelo computador.

Herbert Simon, futuro Nobel, as- sim como Allen Newell, Harold Guetzkow, Richard M. Cyert e James March estavam entre os cientistas do CIT fascinados pelo comportamento organizacional e pelo funcionamento do cérebro humano. A pedra filosofal que promoveu a fusão alquímica das idéias desse grupo foi a computação eletrônica. Em meados da década de 1950 o transistor tinha menos de dez anos de idade - e a IBM só lançaria o revolucionário mainframe 360 em 1965. Mas cientistas já indagavam de que modo as novas ferramentas melhorariam a tomada de decisão pelo homem. O trabalho desses e de outros especialistas de Carnegie, junto com pesquisas de Marvin Minsky no MIT e de John Mc- Carthy em Stanford, produziu os primeiros modelos informatizados da cognição humana - o embrião da inteligência artificial.

A inteligência artificial tinha como meta tanto ajudar a ciência a entender de que modo o cérebro toma decisões quanto melhorar o processo decisório de indivíduos na vida real. Sistemas de apoio à decisão, que começaram a surgir nas grandes empresas no final da década de 1960, serviam a esse último objetivo, visando especificamente às necessidades práticas de executivos. Numa das primeiras experiências com a tecnologia, administradores usaram o computador para coordenar o planejamento da produção de equipamentos para lavanderias, relata Daniel Power, editor do site

DSSResources.com. Nas décadas seguintes, gestores de diversos setores aplicaram a tecnologia a decisões sobre investimentos, preços, publicidade e logística, entre outras. Mas, embora melhorasse as decisões operacionais, a tecnologia seguia sendo mais burro de carga do que corcel de batalha. Até que em 1979 John Rockart publicou na HBR o artigo "Chief Executives Define Their Own Data Needs", propondo que os sistemas usados por dirigentes empresariais deveriam muni-los de dados sobre as principais coisas que a empresa deve fazer bem para triunfar. O artigo contribuiu para o surgimento de sistemas de informação especialmente voltados a aprimorar a tomada de decisão estratégica na cúpula da empresa. Em fins da década de 1980 um consultor do Gartner Group cunhou o termo "business intelligence" para descrever sistemas que ajudam tomadores de decisão organização afora a entender o universo da empresa. Ao mesmo tempo, uma preocupação crescente com riscos levou mais empresas a usar instrumentos complexos de simulação para avaliar vulnerabilidades e oportunidades.

Na década de 1990, a tomada de decisão com auxílio da tecnologia achou um novo cliente: o próprio consumidor. A internet, que no sonho de toda empresa traria um maior poder de venda, acabou dando ao consumidor mais poder para decidir de quem comprar. Segundo o portal de consumo BizRate, em fevereiro de 2005, 59% dos consumidores online visitaram sites de compilação de dados para comparar preços e características de distintos produtos antes da compra; 87% usaram a internet para avaliar os méritos de varejistas online, de operadores de catálogo e de lojas tradicionais.

Ao contrário de executivos às voltas com decisões estratégicas, o consumidor não precisa fazer aquilo que Herbert Simon chamou de "zilhões de cálculos" para decidir. Mesmo assim, esse novo poder de tomar a melhor decisão possível talvez seja o impacto mais significativo já exercido pela tecnologia sobre o sucesso - ou fracasso - empresarial.

Liderança visceral
"A primeira definição da palavra "gut" em qualquer dicionário da língua inglesa é "intestino", "tripa". Mas quando diz que seu estilo de liderança é "straight from the gut", Jack Welch não está pensando no aparelho digestivo. Welch trata a palavra como o amálgama de duas gírias da língua: "gut" (resposta emocional) e "guts" (firmeza, coragem).

Essa migração semântica das tripas do homem para um coração de leão ajuda a explicar o atual fascínio pela tomada de decisão visceral, intuitiva. O instinto parece em alta num país como os Estados Unidos - algo visível pela admiração do americano por empresários e bombeiros, pela popularidade de autores como Malcolm Gladwell e Gary Klein, pelo resultado das últimas duas eleições presidenciais. Pragmáticos se fiam em fatos. Heróis, no instinto. Como disse Alden Hayashi em "When to Trust Your Gut" (HBR February 2001): "A intuição é um dos muitos fatores que distinguem o homem do menino."

Quem usa o instinto para decidir é admirado mais pela mostra de coragem do que pela qualidade da decisão tomada. Uma decisão intuitiva é prova da confiança de quem a toma - característica impagável num líder. Decisões viscerais são tomadas em momentos de crise, quando não há tempo para pesar argumentos e calcular a probabilidade de cada desfecho. São tomadas em situações sem precedente e, portanto, carentes de dados objetivos. Chegam, até, a desafiar esses dados concretos, como ocorreu quando Howard Schultz, da Starbucks, contrariou o consenso e apostou que o americano pagaria US$ 3 por um café. Ou quando Robert Lutz deixou que a emoção ditasse o investimento de US$ 80 milhões da Chrysler num veículo robusto de US$ 50 mil. Segundo George Soros, a dor nas costas já o alertou para oscilações no mercado acionário que renderam fortunas ao financista. São decisões que já nascem lendárias.

Um tomador de decisão tem bons motivos para preferir o instinto. Numa pesquisa com executivos feita por Jagdish Parikh quando aluno da Harvard Busi- ness School, os entrevistados disseram que usavam a intuição tanto quanto sua capacidade analítica, embora atribuíssem 80% dos sucessos ao instinto. Henry Mintzberg explica que o raciocínio estratégico pede criatividade e síntese - daí casar melhor com a intuição do que a análise. Além disso, o instinto é algo pessoal e intransferível, o que aumenta seu valor se for certeiro. Um leitor pode estudar cada palavra já escrita por Welch, Lutz ou Rudolph Giuliani. Mas não pode reproduzir as experiências, o padrão de raciocínio e os traços de personalidade na base das decisões mais notáveis desses líderes.

Embora poucos rechacem por completo o poder do instinto, não faltam ressalvas. Economistas comportamentais como Daniel Kahneman, Robert Shiller e Richard Thaler expuseram os mil erros naturais que nosso cérebro comete. Nos negócios, há exemplos igualmente convincentes. Michael Eisner (Euro Disney), Fred Smith (ZapMail) e Soros (títulos russos) estão entre os vários empresários de destaque que já tiveram palpites errados, como aponta Eric Bonabeau no artigo "Não confie na sua intuição" (HBR Maio 2003).

É lógico que a dicotomia instinto e cérebro é em grande medida falsa. Poucos tomadores de decisão vão ignorar os fatos se tiverem acesso a eles. A maioria sabe que em certos momentos vai faltar informação, e que terá de apostar no instinto. Felizmente, o intelecto embasa tanto a intuição quanto a análise, e estudos mostram que a intuição em geral é bastante boa. E pode até ser treinada, como sugerem John Hammond, Ralph Keeney, Howard Raiffa e Max Bazerman, entre outros.

Em A Quinta Disciplina, Peter Senge condensa com elegância a abordagem holística: "Indivíduos com alto nível de domínio pessoal (...) evitam escolher entre a razão e a intuição, ou entre a cabeça e o coração, assim como não preferem caminhar com uma perna só ou ver com um olho só." Afinal, piscar fica mais fácil quando usamos os dois olhos. E a fitada longa e penetrante, também.

Artigo de: Leigh Bucanan e Andrew O´Connell - www.revistaharvard.com.br

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