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Artigo
A ditadura do varejo
Tema
Gestão de Vendas
ditadura do varejo

No ano de 2002 a revista Exame publicou um artigo denominado “A ditadura do Varejo”. Tal artigo mencionava as pressões que as indústrias sofrem, por parte dos varejistas, para cobrarem preços cada vez mais baixos, comprometendo inclusive a sobrevivência da própria indústria. Hoje, mais de dez anos depois, da publicação de tal artigo, sabe-se que os varejistas ainda exercem tal pressão e em alguns casos ela inclusive aumentou.

Obviamente que os executivos da indústria têm sua parcela de culpa em tal situação. Já que, de certa forma, foram eles que “criaram o monstro”. E na ânsia de bater meta, entregar o resultado, ganhar bônus, eles baixaram a guarda e aceitaram as imposições dos varejistas. Sabe-se que em uma relação comercial, se uma exigência é aceita em uma única negociação, ela vira regra nas negociações seguintes. Quero deixar claro que não estou criticando os executivos da indústria, pois já fiz parte desse time e sei quão grande é a pressão por resultados e quão tentador é ceder as pressões dos varejistas e pensar no curto prazo deixando de lado a visão a longo termo.

Porém a ditadura que me refiro aqui não é em relação às indústrias e os varejistas, mas sim uma ditadura, muito mais nociva e que poucas pessoas estão se dando conta de sua existência. E para piorar ainda a situação as poucas pessoas que se dão conta dessa existência, têm muito pouco a fazer para tentar evitá-la. A ditadura que me refiro é a que dos varejistas exercem sobre o consumidor final.

Já faz algum tempo que vêm se divulgando que o consumidor é o todo poderoso, que o cliente tem todo o poder e que o vendedor é que tem que se esforçar para agradar, cativar e fidelizar o comprador. Além disso, brada-se aos quatro ventos que atualmente vivemos em um tempo de hiper competição, que o cliente é o bem mais precioso que uma empresa possui, entre outras afirmações do gênero. Para confirmar que tais afirmações não passam de frases feitas com o único intuito de se vender livros, basta entrarmos em qualquer loja de alguma grande rede de supermercados e observarmos os seguintes itens:

Empacotadores:  

Logo na entrada do supermercado, já se percebe que existem bem menos funcionários do que havia antigamente. Antes se encontravam, no mínimo, dois funcionários em cada caixa, um para registrar os produtos na caixa e outro para empacotar as compras e colocá-las no carrinho. Em algumas redes existia, inclusive, a figura de um terceiro funcionário para retirar as mercadorias do carrinho e colocá-las sobre o balcão do caixa. E depois de as mercadorias devidamente pagas e colocadas dentro das sacolas, um desses funcionários ainda acompanhava o cliente até o seu carro, para ajudá-lo a colocar as mercadorias no porta-malas. Atualmente, só existe a figura do caixa e é o consumidor que tem que fazer todo o trabalho sozinho.

Tamanho e disponibilidade das sacolas oferecidas:

Antigamente os mercados ofereciam três tipos de sacolas, pequena, média e grande. Hoje em dia, existe só um tamanho de sacola e caso o consumidor deseje uma sacola maior ele deve entrar em uma fila para retirar tal sacola. Normalmente as sacolas maiores ficam no balcão de informação, obrigando os consumidores a efetuarem todas suas compras, e depois ainda encarar uma fila só porque precisam de uma sacola maior.

Quantidade de sacolas oferecidas:

Onde antes se via uma grande quantidade de sacolas armazenadas sobre o balcão do caixa, hoje vemos um número mínimo de sacolas. Quando ainda existia a figura do empacotador, ele mesmo já utilizava duas sacolas para ensacar duas embalagens de refrigerante de 2 litros, por exemplo. Hoje quando os caixas nos ajudam a empacotar as compras, eles sempre insistem em colocar cada vez mais produtos dentro de uma mesma sacola, e se o cliente pede para colocar duas sacolas em um item mais pesado eles fazem questão de demonstrar seu mal humor. Obviamente que os funcionários dos caixas têm meta de redução do número de sacolas utilizadas.

Resistência das sacolas oferecidas:

As sacolas oferecidas por algumas redes de supermercados de brancas, ficaram quase que transparentes, de tanto que sua gramatura diminuiu. E sua resistência igualmente decresceu significativamente, onde antes conseguíamos utilizar somente uma sacola para carregarmos um produto de 5 quilos, hoje precisamos de duas sacolas para carregar o mesmo peso. Quem já não teve a infeliz experiência de estar carregando um produto pesado e a sacola se partir.

Gôndolas desabastecidas:

Frequentemente vimos faltar produtos nas gôndolas, enxergamos grandes espaços vazios nas prateleiras. Isso ocorre atualmente porque os supermercados não contratam mais funcionários deles para abastecer as gôndolas, ou contratam o mínimo possível. Atualmente os produtos têm que serem repostos por funcionários pagos pela própria indústria. Como a função principal da indústria não é a administração e o gerenciamento de lojas, a sua eficácia nessa atividade acaba não sendo satisfatória. Algumas indústrias ainda recorrem à contratação de agências de promotores, as quais utilizam na maioria os promotores compartilhados, mesmo assim são poucas agências que apresentam o resultado esperado.

Por esse motivo que muitas vezes quando o cliente pede informação a alguém que está abastecendo uma gôndola, essa pessoa diz que não sabe a resposta ao questionamento porque não trabalha no supermercado.

Precificação em gôndola:

Antigamente, cada embalagem do produto tinha uma etiqueta de preço, porém para reduzir custo os grandes supermercados optaram por não colocar mais etiquetas individuais, mas sim uma indicação do preço fixada na gôndola. Porém seguidamente nos deparamos com produtos sem indicação de preço nas prateleiras isso ocorre porque quem é o responsável por verificar a precificação é o promotor, pago pela indústria, e não algum funcionário do supermercado. Recentemente conversando com um gerente de supermercado ele me confidenciou que alguns promotores retiram essas indicações de preços dos produtos concorrentes, o que agrava ainda mais a situação.

Marcas disponíveis:

Embora o número de marcas oferecidas pelos fabricantes só tenha aumentado nesses últimos anos, a quantidade de marcas de um mesmo produto disponíveis em um supermercado diminuiu significativamente. Os mercados que mais oferecem opções de marcas, normalmente, disponibilizam no máximo três marcas, sendo a marca líder, uma de preço e outra intermediária. Dependendo do produto em questão, a maioria dos supermercados oferece no máximo duas marcas, deixando o consumidor quase que sem opção de escolha.

Inclusive muitas vezes não encontramos alguma marca líder nos supermercados, isso normalmente ocorre quando o fabricante não concorda com algum termo da negociação imposta pelo supermercado. Dessa forma, em retaliação, enquanto se discute esse termo da negociação o supermercado suspende as compras de tal marca.

E ainda quando o fabricante cai na tentação de produzir marca própria, ao contrário do que se pensa, acaba aumentando a sua dependência do supermercado e diminuindo ainda mais seu poder de barganha. Com a produção da marca própria o percentual da produção total do fabricante disponibilizada para um único varejista aumenta, assim como aumenta o percentual do faturamento oriundo de um cliente específico.  

Capricho dos pontos extras:

Faz muito tempo que não se vê um ponto extra devidamente organizado e enfeitado. Há um tempo atrás cada ponto extra era uma atração a parte, existia material de merchandising específico para decoração de ponto extra. O que vimos atualmente são pontos extras sobre pallets, no qual nem se tem o trabalho de esconder os pallets, eles ficam a amostra confirmando o descaso com que foi feito aquela arrumação.

Número de caixas abertos:

Existiu um tempo em que obrigatoriamente todos os caixas de um mercado funcionavam permanentemente. Hoje, realmente não se sabe qual o motivo de alguns supermercados terem tantos caixas, se mesmo nos momentos de maior pico nem a metade dos caixas existente está aberta.

Material usado pelo caixa:

Quando se observa aquele pedaço de tecido, normalmente uma flanela, usado pelo caixa para manter o balcão limpo tem-se a impressão de que tal pano acaba mais sujando do que limpando, de tão usado, desgastado e sujo que se encontra esse material. Tal ocorrência acontece porque normalmente é o próprio funcionário que tem que arcar com o custo desse pano.

Após se observar esses dez pontos, dentre tantos outros, fica claro que o item mais importante para os varejistas é a redução dos custos e não a satisfação dos consumidores. Todas as ações enumeradas anteriormente têm o único e exclusivo propósito de reduzir custo, não ligando a mínima para o bem estar do cliente.

O que mais me assusta nessa situação toda é que parece que a força dos varejistas é tamanha que eles conseguem comprar briga com a indústria e com os consumidores, ao mesmo tempo, e a ainda assim sair ganhando. Até onde vai essa força? Essa é, certamente, uma das perguntas mais valiosas da atualidade.

Pesquisas recentes mostram que a relação de fidelidade dos consumidores finais tem se alterado. Há um tempo atrás, os clientes eram fiéis as marcas e atualmente são fiéis as lojas. O que é de certa forma explicável uma vez que um dos bens mais preciosos para o cidadão é o tempo.

Logo ele prefere comprar um produto de uma marca que não da sua preferência, ao se deslocar a outra loja em busca da sua marca preferida. Sem contar que o consumidor ainda corre o risco de se deslocar a outra loja, perder esse tempo precioso, e ainda assim não encontrar a marca de sua preferência.

Ficam as dúvidas, será que existe espaço para alguma rede trabalhar com um custo mais elevado para dar um tratamento mais adequado aos clientes? Será que os consumidores estão dispostos apagar mais por isso? Será que é possível reduzir custos em outro ponto, como em logística, por exemplo, para compensar com um custo maior no atendimento ao consumidor? Será que algum empreendedor irá identificar essa gigantesca oportunidade que se apresenta atualmente? 

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