Empresas ampliam reconhecimento para funcionários criativos e descobrem que a parceria, além de criar um bom ambiente de trabalho, também pode dar lucro
Maurício Kruel, supervisor da auditoria de qualidade da General Motors em Gravataí, mobiliou parte da casa onde mora com os prêmios que ganhou pelo seu talento inovador. Luciano Bohnenberger, operador de máquina da Artecola, colocou duas TVs LCD de 32 polegadas na sala de casa devido à sua imaginação galopante. Marco Antônio Vieira de Paula, manipulador de material composto na Embraer, foi mais além: recebeu R$ 10 mil porque encontrou uma forma de economizar a matéria-prima mais cara para a fabricação de aviões, além de reduzir o tempo de produção em uma das etapas.
Os três casos estão longe de ser uma exceção: cada vez mais, empresas como Siemens, 3M, Marcopolo, ALL e GM, entre outras, incentivam o público interno a apresentar suas ideias para melhorar o desempenho corporativo – sejam elas quais forem. No jargão empresarial, valorizam o intraempreendedorismo.
– Aqui não tem censura. Sempre analisamos com respeito as sugestões dos funcionários, por mais inadequadas que possam parecer – diz o diretor de recursos humanos da unidade gaúcha da GM, Sidnei Alvares.
A empresa é uma das que mais investe em recompensas. Só em prêmios, a GM distribuiu R$ 600 mil em 2009 para uma economia que chegou a R$ 3,5 milhões. O “Oscar” do projeto, sorteado entre as melhores ideias, é um carro. Em média, cada empregado faz oito sugestões ao programa Boas Ideias.
Alvares diz que é necessário criar um ambiente favorável entre os empregados antes de se chegar a resultados tão expressivos.
– Não dá para ficar focado só em produtividade, porque isso pode provocar rejeição. O resultado tem de ser consequência, e não um fim em si mesmo. E tem de regar como se fosse uma plantinha, se não morre – compara.
Um dos projetos vencedores reduziu em oito segundos por carro o processo de qualidade do setor de pintura dos automóveis, um dos mais sensíveis da companhia. Pode parecer pouco, mas o procedimento apresentado pelos colegas Marlon Cardan e Maurício Kruel representa duas horas a menos num dia de produção da GM de Gravataí. O projeto, que gerou economia de R$ 127 mil, vai ser implantado em outras unidades da montadora.
Pesquisa da Fundação Dom Cabral (FDC) aponta que os empresários brasileiros ainda se ressentem de um ambiente interno favorável à inovação, mas já encontram entre seus funcionários os principais aliados para a criatividade. O professor Carlos Arruda, da FDC, diz que inovar é fundamental para a sobrevivência.
– As empresas são pragmáticas e em geral pouco receptivas a novidades. Mas é bom lembrar que das 500 maiores empresas brasileiras de 30 anos atrás, 350 não existem mais – lembra.
na hora de contratar, criatividade conta pontos
A fabricante de aviões Embraer, de São José dos Campos (SP), adotou o programa Boa Ideia em 1988 para motivar e incentivar a participação dos funcionários nos processos de gestão. Há 10 anos, mudou o foco para os negócios da companhia e os resultados são surpreendentes. Em 2009, o ganho com as 4,6 mil ideias implantadas gerou uma economia de US$ 28 milhões. No primeiro trimestre deste ano, o valor já encostou nos US$ 10 milhões.
A presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Layla Nascimento, diz que a valorização da ousadia e da criatividade é um fato no ambiente empresarial brasileiro, refletido em organogramas cada vez mais “horizontais”:
Na hora de contratar, o quesito criatividade só perde para a capacidade de trabalhar em equipe.
Fonte: Zerohora.com
