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Artigo
O Caminho e a Empresa
Tema
Pessoas e Produtividade
Caminho Compostela

Há dois anos, exatamente neste momento eu estava percorrendo o Caminho de Santiago da Compostela na Espanha. Percorrer tal caminho era um sonho que eu acalentava desde minha adolescência e finalmente em 2008 eu consegui realizá-lo.

Eu digo que era um sonho, mas, na verdade, era um projeto, pois um projeto é bem mais palpável que um sonho, com prazos, metas e valores.

Como sou formado em administração de empresas e apaixonado por essa profissão, ultimamente comecei a perguntar-me o que o Caminho tinha me ensinado em relação a o dia-a-dia de um administrador. Então, cheguei à conclusão que o Caminho me ensinou, sobretudo a lidar com planejamento e metas de longo prazo.

Para quem não conhece, o Caminho de Santiago é uma trilha de peregrinação que leva até a cidade de Santiago de Compostela, na Espanha. Existem várias rotas: o Caminho Francês, que começa ainda na França e praticamente atravessa o norte da Espanha de leste a oeste; o do Norte, que percorre boa parte do litoral norte de Espanha junto ao Mar Cantábrico; o Português, que inicia em Portugal e segue rumo ao norte até Santiago, o Aragonês, que começa mais ao sul que o Caminho Francês e, depois, vem a juntar-se a este.

A rota que eu escolhi foi a francesa, justamente a mais longa, com mais de 800 km de extensão. Para percorrê-la à pé, como optei, levei exatamente 33 dias. Vale lembrar que, no Caminho, deve-se carregar tudo de que se necessita e, por isso, além de caminhar praticamente o dia todo, ainda é preciso levar uma mochila pesada nas costas.

A minha preparação para percorrer o Caminho começou meses antes, aqui no Brasil, com seções diárias de exercício físico para as pernas e costas. Depois disto veio a escolha do número de etapas em que eu iria realizar o caminho, para decidir quantos dias eu iria ficar por lá e para determinar em quais cidades eu iria pernoitar.

Além disto, tive que decidir os equipamentos e materiais que levaria. Como pode-se notar a realização do Caminho exigiu-me uma boa dose de preparação e planejamento. E, se nenhum planejamento é tão eficiente que não precise sofrer alterações, obviamente o meu também não foi.  Dois problemas que enfrentei dizem respeito ao meu condicionamento físico e o tempo de conclusão do percurso. Porém a preparação foi exitosa quanto aos equipamentos levados e ao peso da minha mochila.

Quanto à preparação física falhei no condicionamento das articulações e no preparo dos músculos utilizados em descidas, que logo no início começaram a dar sinais de cansaço e desgaste. Como o caminho tem tantas subidas quanto descidas, eu deveria ter dado mais atenção a estas últimas.

Centrei meu treinamento em uma academia, mas é muito difícil simular descidas com aparelhos de ginástica. Isto fez com que me desse conta de que realmente uma das melhores formas de treinamento é por meio do coach, onde o treinamento se dá no campo e no momento da realização da tarefa. Se eu tivesse optado por caminhar na rua, já com a minha mochila carregada, com certeza eu estaria mais preparado para enfrentar o caminho. Igualmente, em nossas empresas devemos sempre priorizar treinamentos que englobem atividades práticas, como simulação de visitas a clientes, acompanhamento de rotinas de funcionários mais experientes, saídas a campo, etc. É preciso desenvolver um sistema de capacitação que seja o mais próximo da realidade possível, no qual o funcionário passe por situações muito parecidas com as quais ele irá se deparar no exercício de suas funções. Esta tática, além de passar mais conhecimento para o funcionário, acaba diminuindo significativamente sua ansiedade, deixando-o mais seguro para realizar suas tarefas.

Esta questão me fez lembrar aquela máxima segundo a qual não existe planejamento perfeito e sempre teremos que contar com a nossa flexibilidade e adaptabilidade para conseguir levar um projeto até o fim. Sem dúvida, se eu não tivesse me adaptado a minha nova realidade, de dores constantes nas articulações e fadiga muscular, eu não teria conseguido finalizar o Caminho.

Outra consideração importante que retirei desta experiência única que vivi ao longo do Caminho de Santiago da Compostela diz respeito a metas de longo prazo. Percorrer 800 km mesmo de carro já não é uma tarefa fácil. Agora, imagine percorrer 800 km a pé e com uma mochila nas costas. A primeira vista parece impossível, porém, quando desdobramos o trajeto em etapas curtas de, 25 a 30 km, a meta final de 800 km torna-se viável.

Assim também são as metas empresariais. Quando vemos o todo, elas parecem distantes e inacessíveis. Todavia, se desdobradas, elas deixam de parecerem tão ameaçadoras e passam a ser factíveis. Por isto é muito importante em nossas reuniões com nossas equipes, apresentarmos as metas de longo prazo de uma forma mais detalhada. Dessa maneira o grupo vai conseguir visualizar em um horizonte mais próximo e enxergar como tais metas poderão ser alcançadas pela empresa.

Quando falamos para nossas equipes, que queremos aumentar em X% o faturamento ou queremos chegar, daqui a 5 anos na casa dos X milhões em vendas, tais metas podem parecer impossíveis. Por outro lado se falarmos em um acréscimo no faturamento de X%, mês a mês, pelos próximos 5 anos, e que, para isso, será preciso um aumento de X% nas sua vendas diárias e no número de visitas de cada vendedor, a equipe passará a ter uma informação mais detalhada e conseguirá mensurar exatamente o que cada um terá que fazer para atingir a meta da empresa. Vale lembrar que o desdobramento de metas deve ocorrer em todas áreas da empresa e não só na comercial. Por exemplo, se a empresa deseja aumentar sua lucratividade todos os departamentos devem receber uma meta seja para aumentar o faturamento seja para diminuir custos. Voltando ao exemplo do Caminho, assim como eu exercitei os músculos para tornar minha jornada menos desgastante ou planejei minuciosamente o peso da minha mochila, para melhorar o desempenho de meus músculos,  uma empresa com custos mais baixos, certamente aumentará ainda mais sua lucratividade.

O meu planejamento inicial era de percorrer o Caminho em 31 dias, porém esse foi outro aspecto que sofreu alterações. Só que nem sempre as alterações se dão pelo surgimento de algum problema,e nesse caso, o que me levou a alterar a programação foi um grupo de pessoas extraordinárias que conheci e o deseja de caminhar com elas. Decidi, então, abrir mão de uma aspiração inicial de realizar o caminho em 31 dias e resolvi acostumar-me com a idéia de realizá-lo em 33 dias para poder desfrutar da companhia de pessoas que eu tinha acabado de conhecer. Coincidentemente, esta flexibilização acabou sendo responsável por alguns dos momentos mais interessantes que tive durante todo o percurso.

Desta experiência podemos tirar dois aprendizados: o primeiro é que nem sempre são problemas que nos fazem alterar os planos e segundo é que muitas adaptações acabam trazendo benefícios inesperados ao projeto. No meu caso, foi uma oportunidade e não um obstáculo que provocou mudanças no planejamento original.

Não custa repetir que, se houve algumas falhas no meu cronograma, houve alguns pontos em que ele foi excepcional.  Um desses está atrelado ao peso da minha mochila.

É sabido que o peso ideal de uma mochila para caminhadas longas não deve ultrapassar 10% do peso do caminhante. A minha não poderia ter mais de 7 quilos. Depois de muito trabalho, consegui reduzi-la para 6,4 quilos. Claro que, para atingir esta marca, eu tive que ser obsessivo. Antes de selecionar qualquer equipamento para a viagem, eu me imaginava sem esse artigo, e só levava o se fosse extremamente essencial.

Após ter decidido quais artigos levar, eu os comparava com similares, produzidos com materiais mais leves, pesando qualquer coisa antes de colocar dentro da mochila. Somente desta forma, obstinadamente, consegui ter a mochila mais leve que encontrei durante todo o Caminho.

 Por isto digo que a lição mais importante que tirei do Caminho foi a de que o planejamento é uma das etapas mais importantes de qualquer projeto. Porém, a flexibilidade, que permite modificá-lo é igualmente importante, pois o planejamento é uma ferramenta para auxiliar-nos na realização de uma tarefa e não uma regra imutável.

Finalmente também pude concluir que quanto mais tempo nos dedicamos ao planejamento, menos tempo perderemos fazendo ajustes para deixar um projeto viável. Esta constatação fez aumentar ainda mais minha admiração por um antigo chefe que costumava usar a expressão “treino duro, jogo fácil”.

Colaboração: Conrado Hoffmann

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