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Como uma profissional que terminou um MBA há um pouco mais de um ano e segue em um processo de atualização constante, me deparo com uma expressão que abre a maioria das introduções encontrada em revistas científicas, artigos da área de Management, Gestão de Pessoas, Marketing, etc. que apresentam frases que resumo como o seguinte “dentro do contexto de mudanças, incertezas e exigências em que as empresas se encontram atualmente…”.

Seja em inglês, espanhol, português ou em qualquer outra língua, a ideia apresentada é a mesma, o significado e o rumo do texto são diferenciados, mas parece o clássico início de estória infantil “Era uma vez...”. Porque tanto se fala nesse ambiente complexo, de mudanças e incertezas que um mundo globalizado, com tecnologias em constante desenvolvimento e stakeholders exigentes apresentam diariamente para as empresas? O que fazer para lidar com essas mudanças e exigências que as empresas enfrentam? O que a Gestão de Pessoas pode agregar a tal cenário?

Não estou aqui para apresentar uma visão sociológica do porquê desse fenômeno da rapidez, mudança e complexidade da dita modernidade. Também não encontro na literatura uma explicação ou uma saída para tal impasse que traga a tão querida solução que nossa sociedade deseja: o pacote de soluções rápido e efetivo. Do ponto de vista da Gestão de Pessoas, acredito que o que os grandes pensadores de Management vêm dizendo há pelo menos 10 anos somente agora começam a fazer sentido nas empresas, sejam elas de pequeno, médio ou grande porte.

Não se trata mais de preparar as pessoas para o futuro, mas sim de prepará-las para aceitar o despreparo frente ao que o futuro pode apresentar.

Em outras palavras, a aceitação de que modelos de verdade absoluta são obsoletos, que uma visão míope e parcial sobre um problema dificultam uma tomada decisão acertada e que estar aberto ao novo são os novos pensamentos para um profissional preparado para esse momento de incertezas devem ser as bases para um gerenciamento mais aberto e flexível. Aqui partimos do ponto de que preparação técnica para otimizar tempo e fazer o melhor uso das ferramentas disponíveis é uma premissa que não precisa mais ser discutida. Pela minha experiência de consultoria e gerência dentro e fora do Brasil, consigo identificar duas visões que podem auxiliar no desenvolvimento de colaboradores melhor preparados para este cenário de dúvidas e incertezas.

Primeiro é o desenvolvimento de um olhar mais crítico sobre as questões apresentadas. Ouvi muitas empresas no setor industrial apresentarem políticas e ferramentas que auxiliassem os profissionais a desenvolver um melhor raciocínio, exercícios de estimulação criativa e de insights, de “pensar fora da caixa”. Porém na prática a rotina e a dificuldade de aceitar – e organizar – um espaço para que esse aprendizado seja realizado impedem o desenvolvimento dessas características.

Ontem mesmo discutia com um conhecido que não somos estimulados a questionar, criticar, pensar além. Acredito que exercitar esse olhar crítico, pesquisar uma solução diferente, pensar em alternativas inusitadas – pelo menos dentro da empresa – são os primeiros passos para desenvolver um pensamento mais aguçado e que gere ideias e soluções criativas que possuam o potencial de crescimento tanto para as pessoas como para a empresa.

Em segundo lugar, vejo o desenvolvimento de atitudes e comportamentos integradores, onde a presença e a visão do outro possam ser integradas a fim de desenvolver uma hipótese ou solução mais rica para um problema, independente da complexidade do mesmo. Aprender com a observação, buscando a troca de conhecimento e experiência que venham a nos tornar pessoas mais cultas, ricas em todos os sentidos é um desafio para todos os departamentos.

Cabe à Gestão de Pessoas – seja ela um departamento, um líder ou um gerente – estimular esta troca. O que os experts falam há anos ainda é visto como “humanizador” e a maioria das empresas ainda não consegue ver o valor dessa iniciativa– infelizmente focando somente no resultado final e não na melhoria dos processos que tragam resultados inesperados.

Empresas que conseguem programar uma gestão mais colaborativa, participativa – não só no papel mas nas suas práticas diárias – têm se destacado e conquistado seu espaço dentro do mercado tão exigente, garantindo uma existência prolongada e sustentável. Alguns meses trabalhando na empresa dinamarquesa LEGO me trouxeram à tona o motivo pelo qual eles são referência mundial não somente em produtos de educação e entretenimento mas também no Serviço ao Consumidor.

A transmissão da informação e das ferramentas utilizadas na área comercial são realizadas através de um treinamento que se tornou referência mundialmente, onde se destacam o estímulo ao lúdico e à naturalização do atendimento. A gestão implementada está baseada na crença de que cada indivíduo possui características diferenciadas e que fazem o atendimento verdadeiramente personalizado, demonstrando empatia e resolução como premissas de atendimento.

Desenvolver líderes que venham a fazer esse papel dentro da empresa, imprimindo a sua marca e desafiando aos demais a irem ao limite de suas capacidades intelectuais e competências é o grande desafio da atualidade.